Na pele o crepúsculo a crepitar!




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Oh! que saudades que tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais!

Que amor, que sonhos, que flores,

Naquelas tardes fagueiras

À sombra das bananeiras,

Debaixo dos laranjais!
Casimiro de Abreu



Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero.

Alvaro de Campos



Nesse fim de crepúsculo ainda restaram
Regiões de clara luz do dia
Que ficarão largadas para as outras eras.


Joaquim Cardoso



Todos os dias ela acordava… tomava seu banho com sais. Bebia o chá e sentava em sua cadeira para mais um dia de bordados. Os pontos e linhas surgiam no tecido e  delineavam sua nova vida… acostumada ao comando agora estava cansada, era tão mais fácil se deixar manobrar, mas só até seu limite de conforto.

Os olhos não conseguiam ler… a mente já não absorvia as letras, o bordado era seu último refúgio – passava ali o dia todo se lhe deixassem – quando o corpo cansava… se deitava ao som de sua musica preferida “it’s now or never” – versão de uma antiga canção italiana “o sole mio” –, cantada por Elvis Presley.

O terraço trazia a brisa e os raios de sol… a vida agora se passava nas texturas das grades de sua casa – sua prisão era interna – o corpo já não respondia mais aos estímulos e sua paixão que era dirigir lhe foi retirada, justamente ela que amava o vento das estradas em seus cabelos.

Por que precisamos perder tudo afinal?
Existe um tempo em sua vida em que as lembranças são sua fonte de energia – se vive delas – mas sempre precisamos de novos sonhos e foi justamente quando seus sonhos se apagaram que seus olhos perderam o brilho... seus dedos enrijeceram, as agulhas e linhas ficaram guardadas em sua caixinha. Nem o sol, nem a música, nem todo o amor do mundo a fez voltar… e, tal e qual uma chama – foi se apagando lentamente – até o ultimo dia de sua vida.
Seu ultimo respiro foi ao crepúsculo quatro e meia da manhã… quase Natal!


sugestão do tema - Lunna Guedes




it's now or never - elvis presley

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